Visita ao Projeto FIRESEA
- FAM Foundation

- há 16 horas
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No passado dia 24 de Outubro a fundadora da FAM Foundation, Ana Mendonça juntamente com Nuno Frazão, gestor operacional foram fazer uma visita técnica ao Projeto FIRESEA. Foram recebidos por Carina Costa Felix, coordenadora do Projeto através do MARE (Politécnico de Leiria), e por João Azevedo Coordenador do Departamento Técnico da APAS - Associação de Produtores Agrícolas da Sobrena.

Enquadramento do Projeto
A rápida expansão da macroalga invasora Asparagopsis armata ao longo da costa oeste portuguesa representa um desafio ambiental para os ecossistemas marinhos — e potenciais riscos para a saúde humana. Diversos estudos indicam que esta alga combina uma elevada capacidade invasiva com a libertação de metabólitos halogenados tóxicos para a biota marinha, o que pode, por via de cadeia trófica, gerar efeitos indiretos no consumo de produtos aquáticos. Além disso, a acumulação dessa biomassa em zonas costeiras pode desencadear fenómenos de decomposição que alteram a qualidade da água, reduzindo oxigénio dissolvido e libertando compostos orgânicos voláteis — situações que em outros casos de proliferação de algas já foram associadas a impactos respiratórios ou cutâneos em pessoas expostas em zonas de banhos.
O objetivo do projeto é desenvolver um produto de proteção vegetal sustentável para uso nos pomares de pera Rocha em Portugal, que reduzam a dependência de pesticidas químicos, minimizando impactos negativos para o ambiente. Para isso o projeto FIRESEA, pretende testar o potencial bioactivo da alga invasora Asparagopsis armata como forma sustentável de combater Erwinia amylovora, a bactéria responsável pelo fenómeno conhecido por fire blight nos pomares de pera Rocha em Portugal.
Impacto destruidor da bactéria Erwinia amylovora (fogo‑bacteriano)
Erwinia amylovora é a bactéria responsável pela doença conhecida como fogo‑bacteriano (fire blight), que afeta pomares de macieiras, pereiras e outras pomóideas em todo o mundo. A doença pode destruir árvores inteiras durante uma única estação de crescimento, sobretudo em condições favoráveis de temperatura e humidade. Em muitos países, este patógeno é considerado um organismo de quarentena e a sua gestão representa um custo elevado para produtores e cadeias de fruticultura.
Em Portugal, a primeira detecção oficial de fogo‑bacteriano na pêra ‘Rocha’ ocorreu em 2011, com impacto económico significativo sobre esta variedade de grande valor nacional. Desde então, a bactéria tem vindo a afetar novos pomares em áreas de produção, colocando em risco tanto a produção como a biodiversidade de variedades. Estudos nacionais demonstraram níveis diferentes de suscetibilidade entre clones de ‘Rocha’ e entre variedades de pera e maçã auto‑cótones, o que confirma que a ameaça não é uniforme — algumas cepas da bactéria mostram elevada virulência e adaptabilidade. Os principais riscos específicos da disseminação fogo‑bacteriano:
A ‘Pêra Rocha’ é um pilar económico e cultural da fruticultura portuguesa. A propagação do surto reduz drasticamente a esperança de vida produtiva dos pomares se não houver uma resposta eficaz.
O facto de macieiras serem também hospedeiras potencia a transferência da infeção: embora a ‘Rocha’ seja o foco, variedades de maçã podem tornar‑se reservatório ou alvo secundário da bactéria, o que alarga o risco para toda a fruta de pomóide.
A existência de novas cepas ou variantes adaptadas ao clima e às variedades locais (como foi demonstrado em Portugal) sugere que o controlo se torna mais difícil e requer monitorização contínua.
A combinação de clima favorável à doença (temperaturas entre ~21‑27 °C e humidade elevada) com práticas de poda, colheita e propagação de material vegetal infetado cria um ambiente de elevado risco para surto.
Quebras significativas na produção, aumento dos custos de controle fitossanitário, destruição de árvores infectadas e redução da qualidade do fruto.
Necessidade de investimento em investigação para identificar variedades mais tolerantes, sistemas de monitorização epidemiológica e métodos de controlo eficazes, como desenvolvimento de modelos preditivos ou testes de suscetibilidade.
A urgência de integrar políticas de sanidade vegetal, apoio técnico aos produtores, vigilância reforçada e comunicação rápida entre viveiros, produtores e autoridades.
Atividades de Investigação do Projeto
Com a proibição de antibióticos e compostos de cobre pela União Europeia, o projeto visa testar a eficácia do extrato etanólico da alga em condições de campo, avaliando o seu impacto tanto nas árvores infetadas como no solo e nos frutos, garantindo segurança ambiental e alimentar.
As principais atividades do projeto foram, em primeiro lugar, compreender o efeito do extrato no solo circundante ao longo do tempo, bem como o seu impacto no fruto tratado, garantindo a segurança ambiental e alimentar necessárias à avaliação de um potencial novo biopesticida. Neste sentido, um ensaio de campo em pomar comercial de Pera Rocha da Associação de Produtores Agricolas da Sobrena (APAS) foi desenhado, de forma a testar o extrato etanólico de Asparagopsis Armata em pereiras saudáveis e contaminadas com fogo bacteriano, não só para validar os resultados obtidos em contexto laboratorial, mas também para permitir recolher amostras de solo e fruta para futuras análises.
O ensaio em questão teve o seu início em maio de 2025 e encontra-se totalmente descrito em anexo, incluindo diversas recolhas ao solo ao longo do tempo de exposição ao extrato, bem como na ausência dele (grupo de controlo), contemplando também a recolha dos frutos no final da campanha (dependente da evolução das condições climatéricas, mas esperado para a segunda quinzena do mês de Agosto) para análise da sua qualidade e rendimento de produção.
A investigação inclui a extração de compostos bioactivos de Asparagopsis armata e a avaliação da sua eficácia contra Erwinia amylovora. Ensaios em laboratório e em campo determinarão a viabilidade de usar estes compostos como biopesticidas. O projeto antevê o desenvolvimento de um produto de proteção vegetal sustentável que reduza o impacto de espécies invasoras e diminua a dependência de pesticidas químicos.

Resultados preliminares
O ensaio começou em maio de 2025, em colaboração com associações agrícolas e universidades nacionais e internacionais, estando em curso análises a vários parâmetros fisiológicos e ecológicos. Para além destes avanços, o ensaio em curso tem permitido observar diferenças relevantes na resposta das plantas tratadas com o extrato de Asparagopsis armata quando comparadas com os controlos infetados. Estas diferenças incluem padrões distintos de progressão dos sintomas, variações na resposta fisiológica das folhas e possíveis indícios de redução da severidade da infeção.
Embora preliminares, estas observações sugerem que determinados compostos bioativos presentes na alga podem interferir com a virulência da Erwinia amylovora, abrindo caminho para uma alternativa sustentável aos tratamentos químicos atualmente indisponíveis no quadro regulatório da União Europeia. Paralelamente, estão a ser estudados os impactos do extrato no ecossistema do solo — um ponto crítico para garantir que a solução não introduz riscos adicionais para a saúde ambiental.
Outro aspeto em destaque no progresso do projeto é a necessidade de refinar tanto o desenho experimental como as condições de campo para aumentar a robustez estatística dos resultados. A equipa identificou limitações inerentes ao ciclo fenológico das pereiras, às condições meteorológicas e à variabilidade natural da infeção, que exigem a otimização de protocolos para o ensaio de 2026.
Entre os ajustes previstos estão o aumento do número de replicações, uma caracterização mais fina dos parâmetros microbiológicos e uma calendarização mais ajustada à janela natural de infeção. Estes refinamentos permitirão validar de forma mais robusta o potencial do extrato de Asparagopsis armata como ferramenta de bioproteção, reforçando a credibilidade da abordagem junto de organismos reguladores, produtores e parceiros científicos.
Saiba mais através destes artigos académicos.
Conheça os principais detalhes dos resultados preliminares no seguinte anexo.
O projeto encontra-se alinhado com os ODS 2, 14 e 15, destacando o potencial da Asparagopsis armata não apenas como solução sustentável para a agricultura, mas também como meio de mitigação do impacto desta espécie invasora nos ecossistemas



Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), também conhecidos como Objetivos Globais, foram adotados pelas Nações Unidas em 2015 como um apelo universal à ação para erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que, até 2030, todas as pessoas desfrutem de paz e prosperidade.

